quinta-feira, junho 18, 2009

A saga do cacau e o Festival de Chocolate na Bahia

A saga do cacau e o Festival de Chocolate

Escrito por Eduardo Athayde

A festa que começa esta semana em Ilhéus, tímida e despretenciosa, revela a importância do investimento na mudança cultural de uma sociedade. Dificuldades, embates e incompreensões do passado parecem hoje contar a historia do nosso futuro. A partir deste I Festival de Chocolate, realizado entre 10 e 13 de junho, em Ilhéus, a geração de cacauicultores que resiste ao descaso com que a rica região cacaueira da Mata Atlântica é tratada, envia sinais de alerta e novo comando para o mercado, animando as gerações presentes e futuras. O cacau que ainda deixa as fazendas sem certidão de nascimento, viaja sem carteira de identidade e atravessa os oceanos sem passaporte, tem dias contados. A ordem é registrar a origem, mostrando para o Brasil e para o mundo, as riquezas do local onde o cacau da Mata Atlantica é cultivado em ambiente de alta biodiversidade, exigindo respeito e reverência ao ambiente preservado, agregando valores localmente, atraindo atenções e novas rendas.
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Com tanta coisa acontecendo, Danielle Mitterrand, viúva do ex-presidente François Mitterrand, primeira dama da França por 16 anos, presidente da Fundação France Libertés e parceira do WWI, foi a Ilhéus em abril de 2009. Apaixonada pelo chocolate da Mata Atlântica visitou a Ceplac acompanhada do diretor geral Jay Wallace, do presidente da Associação dos Cacauicultores, Henrique Almeida, e foi recebida pelo governador Jaques Wagner, em Itabuna.
De volta a França, madame Mitterrand, uma das mulheres mais poderosas do mundo e a mais nova "garota propaganda" da Floresta de Chocolate, formadora de opinião, levou os chocolates produzidos na Ceplac - o melhor que já havia provado, segundo declarações feitas a imprensa. Nas palestras que faz pelo mundo passará a contar como a gente da Mata Atlântica está reconsiderando as suas riquezas, garimpando o ouro do cacau.

O Festival de Chocolate

A Floresta de Chocolate, que avança na sua organização, pode aproveitar o exemplo de cidades como Nova Iorque e Paris, que distribuem catálogos das suas lojas de chocolate, e publicar um guia das Fazendas de Chocolate, organizando e fortalecendo a oferta de produtos e serviços de uma cadeia produtiva de econegócios que aprende a agregar os valores dos seus ativos, apropriando rendas e usufruindo da inteligência das classes organizadas.
Enquanto nos organizamos por aqui, o Festival de Chocolate de Gramado continua a levar todos os anos cerca de 200 mil turistas para a serra gaúcha - onde não tem pé de cacau -, que gastam uma media de 250 reais por visitante/dia entre estadia, alimentação e outros dispêndios, despejando R$ 50 milhões de recursos novos na economia local, em uma semana.
Quanto será que a economia cacaueira, abraçando o princípios do econegócios poderá atrair em rendas novas, com inovação, ciência, tecnologias; infra-estrutura de rodovias, porto e aeroporto; e mais, a cultura do cacau, as belezas naturais, as praias, os princípios ativos das plantas e o imaginário de Jorge Amado, divulgado pelos quatro cantos do mundo em mais de 40 idiomas? Isso tudo pode ser respondido por pessoas reunidas, trocando informações e construindo inteligência nova em eventos como Festival de Chocolate da Mata Atlântica.

A saga do cacau e o Festival de Chocolate

Eduardo Athayde é diretor do WWI-Worldwatch Institute no Brasil www.worldwatch.org.br.


Na integra no AçãoIlhéus