quarta-feira, fevereiro 25, 2009

Ô inferno essa Bahia!

Carnaval não é mais coisa do diabo

   Os antigos diziam - principalmente as velhas carolas e a Igreja Católica -, que o Carnaval era coisa do Diabo. Era. Agora até o Diabo se escondeu ou foi passar uns dias no Litoral Norte ou na Ilha de Itaparica, pois nem Diabo aguenta tanta barulheira, com trios executando suas músicas com mais de 120 decibéis e os agentes de fiscalização fingindo que multam, mas quem sabe fazendo um acerto por fora – e eu li ou alguém me falou ou ouvi em algum lugar, que tem agente que ganha dos donos de trios para passar na frente do outro. Ô inferno essa Bahia!
  O Diabo quer mais é ficar longe da muvuca. Diabo sabe que se for atrás do Chiclete vai ser assaltado e levar porrada dos malhadões. Se for atrás de Ivete vai ficar doidão com aqueles pernões. Se for no trio de Cláudia Leitte vai ficar vendo ela dá umas e outras paradas pra tirar...leite...claro, para mandar via circuito para o filhote recém-nascido (e eu pergunto como é que com tanta agitação e tanto pulo o leite não vira manteiga ou requeijão cremoso).
  Se o Diabo decidir fazer algo ameno, como sair de mulher nas Muquiranas corre o risco de ser preso ou levar tiro, pois nos últimos anos o bloco foi invadido por policiais civis e é um perigo, pois qualquer pisão nos pés das "meninas" pode degenerar num tiroteio digno do Álamo; tanto que os antigos foliões já se afastaram.
  Mas o Diabo ficou abestalhado mesmo foi quando de passagem para seu retiro espiritual numa praia longe, ter visto de relance que o "Filhos de Gandhy" está parecendo com "Os Mascarados". Liberou geral e virou um afoxé GLS, para bem de todos e de todas. O que se viu dentro do bloco, na Avenida, como nunca se viu, foram os casais machos trocando beijos e, de mãos dadas, indo na cadência. Não podia ser diferente. Lembre-se que se hoje o grande barato do carnaval é beijar na boca – e não vale a qualidade do beijo, mas a quantidade, quanto mais bocas serem beijadas melhor – o pessoal do Gandhy já fazia isso há tempos. Saiba que os colares que eles levam no pescoço, sempre foram objeto de troca. Cada colar dado é um beijo recebido. Se bem que tenho um amigo que saiu com mais de cinqüenta colares no pescoço e na volta para casa estava com 52 colares. Não soube explicar.
    O Diabo, em sua sanha para fugir do carnaval saiu pelo Campo Grande e viu, para vergonha dos baianos que estavam com visitantes, um diretor do Cheiro discutir em cima do trio, com o pessoal técnico, pois parece que o caminhão não dava para passar entre um praticável da Saltur e um posto policial, momentos antes da saída do bloco no domingo à tarde.
    O Diabo, entretanto, ficou satisfeito com o bloco Pinel que marcou presença no Corredor da Vitória. Seus componentes regaram todas as árvores do trajeto, fazendo xixi sem o menor constrangimento, mesmo com uma bateria de sanitários químicos a poucos metros. E quando no meio da avenida o Capiroto se defrontou com um bloco de evangélicos? Foi o que bastou para o Diabo se mandar de vez e enviar release para as redações de jornais dizendo que esqueçam a máxima que diz que "O Carnaval é invenção do Diabo/...Que Deus abençoou". Tô fora, exclamou e ainda assinou:
  Atenciosamente, Belzebu.
http://www.tribunadabahia.com.br/